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Espigueiros e aldeia de Soajo

Chegar a Soajo é entrar numa vila de montanha onde tudo parece ter sido talhado na mesma pedra. A estrada vai subindo, as curvas aproximam-nos da serra e, de repente, aparece o casario concentrado, abraçado pelos montes. No alto, destacam-se as silhuetas inconfundíveis dos espigueiros, alinhados sobre uma enorme laje de granito. É ali, naquela eira comunitária, que Soajo se apresenta ao mundo.

A eira onde o milho era tesouro

Os espigueiros do Soajo são 24. Estão todos em granito, erguidos sobre um afloramento rochoso, lado a lado, como se formassem uma pequena aldeia dentro da aldeia. Durante séculos guardaram o milho, protegendo-o da humidade, dos ratos e de outras pragas. Hoje guardam, sobretudo, a memória de uma forma de viver em comunidade.

Cada espigueiro tem a sua personalidade: datas gravadas, cruzes no topo, pequenos pormenores que denunciam o tempo e a mão de quem os construiu. O mais antigo remonta ao século XVIII, mas todos continuam ali, firmes, a desafiar a chuva, o vento e as décadas.

Quando se sobe à eira, percebe-se o porquê da classificação como Imóvel de Interesse Público. A vista abre-se para o vale, o granito brilha com a luz e há uma sensação curiosa de se estar num lugar ao mesmo tempo sagrado e quotidiano. Sagrado porque ali se guardava o pão de todo o ano; quotidiano porque era um espaço de convívio, de trabalho partilhado, de conversa ao fim do dia.

Uma vila que cresceu à volta da pedra

Mas Soajo não são apenas os espigueiros. A vila vive, respira e convida a andar a pé sem mapa na mão.

As ruas são estreitas, muitas em calçada irregular, alinhadas por casas de granito que mostram a mistura entre o antigo e o recuperado. No largo, o pelourinho ergue-se discreto, com a sua figura peculiar, sinal de que Soajo já foi concelho e centro de decisão local.

Há varandas com flores, portas abertas, um café onde se fala de tudo e de nada, um restaurante onde o cheiro a cabrito e a rojões se mistura com o sotaque minhoto. Não é uma aldeia-museu: é um lugar real, com gente que trabalha, que vai à loja, que conduz o trator e que, ao mesmo tempo, está habituada a ver chegar visitantes com máquina fotográfica ao peito.

Entre o vale e a serra

Parte da magia de Soajo vem também da localização. A vila está integrada no Parque Nacional da Peneda-Gerês, num ponto onde a serra se deixa aproximar, mas ainda guarda um lado selvagem.

A poucos minutos de carro ou a pé encontram-se cascatas, lagoas e trilhos que fazem as delícias de quem gosta de água fresca e caminhos de montanha: Poço Negro, Poço Bento, Lagoas de Travanca, entre outros.

Isto faz com que a visita aos espigueiros seja muitas vezes o ponto de partida ou o fecho de um dia inteiro:

  • manhã passada num trilho ou numa lagoa,
  • almoço demorado na vila,
  • tarde a subir à eira e a deambular pelas ruas.

Um cenário perfeito, sem deixar de ser autêntico

Do ponto de vista visual, os espigueiros são irresistíveis. Ao final da tarde, quando o sol baixa e a luz aquece, a pedra ganha tons dourados e o vale lá em baixo parece mais sereno. É o momento ideal para fotografar, mas também para fazer algo que se vai tornando raro: simplesmente ficar parado a olhar.

Ao mesmo tempo, é importante perceber que aquele “cenário perfeito” não foi construído para turistas. É o resultado de necessidades muito concretas: proteger colheitas, organizar trabalho, partilhar recursos. A eira é um símbolo de uma cultura de entreajuda que define o caráter desta comunidade.

Essa autenticidade sente-se em pequenos detalhes: um idoso que explica como se debulhava o milho, uma família que ainda usa um dos espigueiros, a naturalidade com que os moradores convivem com quem chega de fora.

Como viver Soajo com tempo

A melhor forma de conhecer Soajo é não o encarar como “paragem rápida para tirar fotos”. Vale a pena reservar pelo menos meio dia – idealmente um dia inteiro – para absorver o ambiente.

Um ritmo possível:

  • começar pela eira dos espigueiros, cedo ou ao fim da tarde, quando há menos movimento;
  • descer ao centro, explorar o largo, o pelourinho, a igreja, as ruas secundárias;
  • sentar numa esplanada, provar um copo de vinho verde e ouvir as conversas à volta;
  • terminar com um passeio curto até um ponto de água nas redondezas ou, ao contrário, começar pela natureza e guardar os espigueiros para o momento mais calmo do dia.

Quem decide ficar a dormir em Soajo ganha ainda outra dimensão: o silêncio da noite, o céu estrelado, o privilégio de ver a eira quase vazia ao nascer do sol.

Respeitar um património que é de todos, mas sobretudo deles

Tal como noutros lugares muito fotogénicos, o maior desafio em Soajo é equilibrar a curiosidade de quem visita com a tranquilidade de quem ali vive. A preservação deste património depende também do comportamento dos visitantes.

Isso passa por coisas simples:

  • não subir aos espigueiros,
  • não entrar em áreas privadas,
  • não deixar lixo,
  • moderar o barulho,
  • perguntar antes de fotografar pessoas.

É uma troca justa: em troca de respeito, Soajo oferece um dos conjuntos rurais mais marcantes do país, uma vila que mostra, com naturalidade, como a vida comunitária moldou a paisagem.

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