Quem chega a Arcos de Valdevez percebe rapidamente que o protagonista é o rio. O Vez atravessa a vila com calma, reflete as casas e as árvores, sustenta a ponte histórica e dá vida aos jardins ribeirinhos. À volta dele organizam-se passeios, memórias, fotografias, mergulhos de verão e histórias antigas – incluindo uma que ajudou a definir o destino de Portugal.
Este é um daqueles lugares em que se sente que a paisagem e a vila cresceram juntas. Para turistas e para quem ali vive, o “produto” Rio Vez + Arcos de Valdevez é, antes de mais, uma forma de viver bem ao ar livre.
O primeiro contacto: a ponte e o espelho de água
A imagem mais conhecida de Arcos de Valdevez é, provavelmente, a da Ponte Velha a atravessar o Rio Vez, com o casario ao fundo e o reflexo perfeito na água em dias tranquilos.
Chegar ali ao fim da tarde é uma pequena lição de simplicidade:
- famílias a passear pelo jardim;
- miúdos de bicicleta;
- seniores a conversar nos bancos;
- visitantes que param, respiram, olham e, claro, tiram uma fotografia.
Não é uma paisagem “montada” para turistas. É o quotidiano normal de uma vila que aprendeu a usar bem o seu rio: com zonas ajardinadas, percursos pedonais, espaços de descanso e aquela sensação de estar no centro, mas sem stress.
Ecovia do Vez e passadiços: caminhar sempre ao lado da água
A partir da vila, o rio não é apenas cenário: é caminho. A Ecovia do Vez permite seguir, quilómetro após quilómetro, acompanhando o curso de água, ora por trilhos mais naturais, ora por passadiços e troços arranjados.
Ao longo do percurso, repetem-se elementos que marcam a identidade do vale:
- pequenas pontes;
- moinhos antigos;
- zonas de areia e pedra onde apetece parar;
- sombras de amieiros e salgueiros;
- pontos de observação de aves e de vegetação ribeirinha.
É uma experiência muito versátil:
- quem quer apenas um passeio curto pode andar meia hora em cada direção, sem grandes subidas;
- quem gosta de andar mais tempo tem vários quilómetros à disposição;
- quem corre ou pedala encontra aqui um “ginásio natural” com vista permanente para o rio.
No verão, a ecovia ganha ainda outra dimensão: é a porta de entrada para praias fluviais e lagoas onde se pode mergulhar, estender a toalha e passar a tarde.
Paço de Giela: a vila vista de cima e a história à vista
Um pouco afastado do centro, mas ainda muito próximo, ergue-se o Paço de Giela, um antigo solar fortificado que domina o vale do Vez. Visto de longe, impõe respeito; visto de perto, surpreende pela recuperação cuidada e pelo diálogo entre pedra antiga e intervenção contemporânea.
Lá dentro, o visitante encontra:
- uma torre que convida a subir para ver o vale do Vez e a vila em perspetiva;
- um espaço expositivo que ajuda a perceber a importância desta casa senhorial ao longo dos séculos;
- conteúdos interpretativos sobre a região, o rio e o célebre Recontro de Valdevez.
A visita ao Paço funciona muito bem em complemento com um passeio à beira-rio. Primeiro vive-se o Vez ao nível da água; depois, vê-se tudo de cima, percebendo como a vila se organizou em torno do rio e das margens férteis.
O Recontro de Valdevez: quando a história passou pelo vale
Um dos pontos mais interessantes da experiência em Arcos é a descoberta de que aquele vale calmo foi, um dia, palco de um momento decisivo para a formação de Portugal: o Recontro de Valdevez.
Sem entrar em excesso de detalhe, a ideia é simples e poderosa para storytelling:
- em meados do século XII, as forças de D. Afonso Henriques e de Afonso VII de Leão e Castela encontram-se neste vale;
- em vez de uma batalha campal sangrenta, realiza-se uma espécie de “torneio” ou recontro controlado entre cavaleiros;
- o desfecho contribui para reforçar a posição de Afonso Henriques e, mais tarde, para o reconhecimento da independência de Portugal.
Hoje, essa história está presente:
- no monumento equestre junto ao rio, que representa os cavaleiros em combate simbólico;
- em painéis e materiais interpretativos;
- na recriação histórica que, em determinadas alturas do ano, anima o vale com figurantes, armas de época, mercado medieval e encenações.
Para quem visita, é uma oportunidade rara de estar num lugar onde a narrativa nacional não é abstrata: aconteceu ali, naquele campo, junto àquele rio que agora corre pacificamente.
A vila: vida local à escala humana
Para além dos ícones – ponte, rio, Paço, monumento – a vila de Arcos de Valdevez tem um charme discreto que se descobre a pé.
O centro oferece:
- ruas com comércio tradicional misturado com cafés e pastelarias modernas;
- esplanadas onde se prova um café, uma fatia de bolo ou um petisco com vista para o movimento;
- praças e largos que funcionam como salas de estar ao ar livre;
- pequenas igrejas e edifícios históricos que vão surgindo ao virar da esquina.
É um ótimo cenário para um fim de tarde depois de um dia mais ativo a caminhar junto ao Vez ou a explorar o concelho. A escala é humana: tudo se faz bem a pé, sem pressa, com tempo para reparar em pormenores.
Viver o Rio Vez e Arcos em diferentes ritmos
Este “produto” pode ser vivido de várias maneiras, dependendo de quem és e do tempo que tens:
- Famílias – podem escolher um troço fácil da ecovia, parar numa zona de areia, brincar à beira-rio, fazer um piquenique nos jardins, terminar com um gelado na vila.
- Casais – um passeio ao fim do dia junto ao Vez, subida ao Paço de Giela para ver o pôr do sol, jantar tranquilo no centro.
- Desportistas – corrida matinal ou de fim de tarde na ecovia, treino de bicicleta pela estrada do vale, mergulho rápido no rio como recompensa.
- Curiosos pela história – caminhada leve junto ao rio, visita guiada ao Paço de Giela, paragem no monumento do Recontro, leitura dos painéis explicativos.
Em qualquer caso, a sensação final tende a ser parecida: a de ter passado um dia bem preenchido, mas sem stress, num ambiente onde a natureza, a história e a vida local convivem de forma muito natural.
Um património que se sente, não se “consome”
O conjunto Rio Vez + vila de Arcos de Valdevez não é uma atração isolada, daquelas em que se “vai, vê e risca da lista”. É mais um ambiente, um modo de estar.
Para tirar o melhor partido:
- vale a pena reservar, no mínimo, um dia inteiro, idealmente com tempo para caminhar, parar, subir ao Paço, voltar ao rio;
- é importante aceitar o ritmo local – mais lento do que o de uma cidade, mais atento ao detalhe;
- faz diferença olhar para o rio não só como cenário, mas como elemento que estruturou o território: agricultura, pontes, povoamentos, até decisões políticas.
No fim, o que fica não é apenas a memória da ponte antiga ou de um mergulho refrescante. Fica a ideia de um vale que foi bem aproveitado, de uma vila que soube colocar o rio no centro da sua identidade e de um lugar onde é fácil sentir-se bem.